sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Por que boicotar uma Olimpiada


Os boicotes funcionam? Não. Nos Jogos de 1976, em Montreal, a Tanzânia liderou um grupo de 28 países africanos contra o apartheid sul-africano. O apartheid, contudo, só terminou 18 anos depois, em 1994. Nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, no auge da Guerra Fria, o boicote de 65 países, comandado pelos Estados Unidos, teve como pretexto a invasão do Afeganistão pela União Soviética, em 1979. Os soviéticos só saíram de lá em 1989. Hoje, depois do terror dos talibãs, quem está em Cabul são os americanos. Em 1984, nos Jogos de Los Angeles, foi a vez de o bloco comunista, liderado pelos soviéticos, tentar estragar a festa. Tentativa fracassada: foi a edição mais bem-sucedida economicamente da história, com cerca de US$ 223 milhões de lucro, nos primeiros jogos da era de ouro do marketing esportivo.
Quem sai perdendo? Em primeiro lugar os atletas. Depois, treinadores e torcedores, nessa ordem, resume o Pittsburgh Post-Gazzette. Na natação dos Jogos de 1980 o alemão-oriental Jörg Woithe ganhou a medalha de ouro nos 100 metros livres com o modesto tempo de 50s40. Três dias depois da final, lembra David Wallechinsky no livro The Complete Book of Summer Olympics, numa competição realizada nos Estados Unidos, o americano Rowdy Gaines venceu a prova com 50s19. Chris Cavanaugh, o segundo, fez 50s26. Ou seja: os melhores do mundo não estiveram em Moscou. Houve uma aberração: no hóquei feminino havia uma única equipe inscrita, a da União Soviética. De última hora surgiu a seleção do Zimbábue, que levaria o ouro.
Ante tantas perdas, quais são os argumentos para um boicote? Opressão, desrespeito aos direitos humanos e à liberdade de expressão. “Quem conseguirá aproveitar as Olimpíadas sabendo que monges são caçados em Lhasa?”, questiona o alemão Süddeutsche Zeitung ao tratar da política chinesa no Tibete.
O que diz o Dalai Lama? O líder espiritual tibetano, peça central do conflito com o governo de Pequim, disse ser contra o boicote. “Desde o princípio sempre apoiei as Olimpíadas”, afirmou. O Dalai teme, a rigor, que o boicote acirre os ânimos chineses.
Há alternativas ao boicote? Em termos. O caminho do meio – para usar uma expressão cara ao Dalai, que a usa para definir sua postura de apoio à autonomia do Tibete e não independência da China – é o boicote da cerimônia de abertura. A alemã Angela Merkel já disse que não comparecerá. Nicolas Sarkozy ameaça ter a mesma postura. Pouco adiantará.
Essa possibilidade preocupa os chineses? Oficialmente não. Zhan Yougxin, ministro das Relações Exteriores, afirma que “é uma festa de abertura, e não uma cúpula política”, anota a BBC. O incômodo causado no governo chinês pela saída do cineasta Steven Spielberg da curadoria do evento inaugural – em protesto contra o apoio chinês aos massacres em Darfour – indica desconforto.
Qual o temor dos países que repelem o boicote? Bater de frente com a economia que mais cresce no mundo.
Como têm reagido os patrocinadores dos Jogos? Com cautela. Marcas como Coca-Cola, McDonald’s e Volkswagen, entre outros que investiram centenas de milhões de dólares, têm demonstrado preocupação com a situação de Tibete e Darfur. Mesmo assim insistem em afastar-se de questões políticas, escreve a Newsweek. Em Olimpíadas passadas alguns rótulos tiveram problemas com ativistas. Como? Boicote aos produtos.

LINK DE ONDE FOI RETIRADA A MATERIA

Nenhum comentário:

Postar um comentário