Por Larissa Santiago
Apesar
de todo empenho e séculos de luta, tanto de escravos revoltosos como de
abolicionistas e agora ativistas antiracismo, não podemos falar em abolição de
maneira conclusa. E ainda temos de disputar sobre qual foi o significado
de 13 de maio, quem foram seus protagonistas e o impacto de implicações para
toda sociedade brasileira atual.
Ainda
interessa à branquitude defender que uma assinatura deu fim à todas as
desigualdades sociais alimentadas pelo racismo, como se fosse possível com um
passe de mágica dar conta de séculos de cativeiro, sequestros, mentira,
trabalhos forçados, exploração sexual, estupro, assassinato, violências
de toda natureza enfim.
Tentando
calar as revoltas populares, sobretudo após o exemplo de Saint Domingue, uma
falsa abolição se apresentou como o melhor caminho para invisibilizar qualquer
discussão. Sabe-se que por décadas os movimentos de fuga, insurgência e
libertação independentes já eram quase que incontroláveis.
“(…) o 13 de maio não significou o fim
imediato das práticas escravistas das relações sociais de trabalho, com hábitos
a ela aliados” (DOMINGUES, 2004, pg 245).
Com
a abolição, nenhuma garantia foi dada sobre quaisquer direitos fazendo com que
milhares de mulheres, crianças e idosos fossem jogados a própria sorte. Somente
mais de um século depois a lei versaria efetivamente sobre as atividades
exercidas pelas trabalhadoras domésticas. Mesmo assim, dando pouca ou nenhuma
atenção à regulamentação dos direitos conquistados por décadas, séculos de
batalha.
A
violência física e simbólica, empregada em homens e mulheres também permaneceu
a mesma, o chicote que estalava nas sezalas ganhou as ruas, a sexualização das
mulheres negras através do estupro forçado. Até hoje os ecos da negação dos
direitos básicos (saúde, educação, moradia, o exercício do ir e vir) são
ouvidos pelas periferias e ruas do nosso país que forjou uma “liberdade” que
nada mais é que uma miragem que está muito longe de ser conquistada em sua
plenitude.
Somente
em 2004 a sociedade brasileira assumiu institucionalmente que é um país
racista, com a primeira lei de cotas nas universidades. Somente em 2013 foi
criada uma emenda constitucional versando sobre o trabalho doméstico, uma
promessa ainda a ser cumprida sobre seu direito a ter direitos. Agora em 2014
ainda temos mulheres sendo assassinadas por serem confundidas com praticantes
de “magia negra”, jovens negros mortos por serem confundidos com bandidos.
Depois
de 126 anos de papel assinado e guardado, ainda são expostas as feridas do
empreendimento colonial racista e opressor. E ainda lutamos por liberdade,
dignidade e visibilidade. Ainda temos de nos debruçar sobre a tarefa de expor o
racismo, dizer como ela afeta nossos corpos e cotidianos.
Adaptado
do site - http://blogueirasnegras.org/2014/05/13/a-abolicao-e-a-mulher-negra-o-significado-do-13-de-maio/
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